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"O que me faz viver é tão intenso que até me perco se explicar. O que me faz viver é tão profundo, mas me vê no mundo, no singular. O que me faz viver vai além da lógica. É maior do que a amplitude cósmica, que o meu pensar. O que me faz viver, eu sei, é isto: de Jesus, o Cristo, o amar." [Sérgio Pimenta]

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Padre Alfredinho - Militância do Evangelho

Frei Betto
“Há criaturas como a cana: mesmo postas na moenda,
esmagadas de todo, reduzidas a bagaço, só sabem dar doçura”

Dom Hélder Câmara


Salão do Sindicato dos Cozinheiros de Paris, início da década de 40. 0 presidente indaga quantos trabalhadores tem um mes de férias por ano. Uns tantos se levantam. Quem tem apenas uma semana de descanso. Uns poucos ficam de pé. Quem só obtém licença do patrão para descansar apenas no fim de semana. Outro punhado de pé. Quem nunca descansa? Um rapaz suíço, com pouco mais de um metro e meio de altura, levanta-se ao fundo. Era Alfredo Kunz, um militante cristão.

Meses depois, Alfredinho, como era conhecido, foi mobilizado pelo Exército francês para lutar contra o avanço das tropas de Hitler. Aprisionado, passou a guerra num campo de concentração na Áustria, ao lado de prisioneiros soviéticos. Aprendeu russo para pregar o Evangelho a seus companheiros de infortúnio. Em 1945, logrou fugir do campo, onde morreram cerca de 40 mil pessoas. Estranhou a indiferença dos soldados nazistas que cruzavam com ele, um notório evadido, com uniforme azul e cabeça raspada. Naquele dia, a guerra terminara.

Alfredinho tomou três decisões: tornar-se padre, trabalhar com os mais pobres entre os pobres e jamais vestir outra roupa que não reproduzisse o modelo do uniforme do campo, em memória de seus companheiros mortos.

Ingressou na congregação dos Filhos da Caridade e, a convite de dom Antônio Fragoso, em 1968 veio para a Diocese de Crateús (CE). Perguntou ao bispo qual era a paróquia mais miserável da diocese. Dom Fragoso apontou Tauá, região de seca e flagelo. Alfredinho instalou-se na capela local. Desprovida de casa paroquial, ele dormia no colchão estendido junto ao altar e cozinhava num fogareiro.

Certa noite, foi chamado para atender uma prostituta que, cancerosa, agonizava em seu barraco de taipa, na zona boêmia. Antonieta queria confessar-se. Padre Alfredinho disse a ela: "Somos nós que devemos pedir perdão a você. Perdão pelos pecados de uma sociedade que não Ihe ofereceu outra alternativa de vida. Como Jesus prometeu, Antonieta, você nos precederá no Reino de Deus. Interceda por nós."

Após receber a absolvição e a unção dos enfermos, a mulher faleceu. Não havia dinheiro para o caixão. As prostitutas enrolaram a companheira num lençol e arrancaram a porta de madeira do barraco para levar o corpo a vala comum do cemitério. Ao retornar para colocar a porta no lugar, Alfredinho teve uma inspiração. Durante anos, o vigário de Tauá habitou aquele casebre em plena zona boêmia da cidade.

Num tempo de seca, os flagelados invadiam as cidades do Ceará. Temerosos, muitos fechavam as portas. Alfredinho criou a campanha da Porta Aberta ao Faminto (PAF), cartaz que cerca de 2 mil fami1ias ostentaram em suas casas, acolhendo as vítimas do descaso do poder público.

Fomos amigos e bebi de sua espiritualidade. Barbado, vestido com a roupa azul que lembrava um macacão, sandálias nos pés e mochila nas costas, o aspecto de Alfredinho não diferia do de um mendigo. Convidado a pregar o retiro dos franciscanos, em Campina Grande, chegou de madrugada e dormiu na escada da igreja do convento. Ao acordar, catou as moedas que encontrou em volta e bateu a porta. "Quero falar com o superior", disse ao porteiro. "O superior não pode atender. Está em retiro." Alfredinho tentou esclarecer: "Sim, eu sei, pois vim pregar o retiro." O porteiro já ia expulsá-lo quando Alfredinho foi reconhecido por um frade que passava.

Testemunhei fato idêntico em Vitória, nos anos 70. A cozinheira interrompeu meu jantar com dom João Batista da Motta Albuquerque para comunicar: "Um mendigo insiste em falar com o senhor." O arcebispo reagiu: "Diga a ele que espere, minha filha. Vou atende-lo após o jantar." Era o padre Alfredinho, que viera pregar o retiro do clero local.

Em 1988, Alfredinho mudou-se para a Favela Lamartine, em Santo André (SP). Passou a viver entre o povo da rua e a dedicar-se a confraria que fundou, a Irmandade do Servo Sofredor (Isso), hoje congregando pessoas consagradas aos mais pobres em dez Estados do Brasil e vários países. Sua trajetória espiritual entre os excluídos está narrada em seus livros, muitos traduzidos no exterior: A sombra do Nabucodonosor, A Ovelha de Urias, A Burrinha de Balaão, A Espada de Gedeão e O Cobrador.

No domingo, 13 de agosto, Alfredinho transvivenciou, acolhido por Aquele que era o seu caso de Amor. Deixou como herança o testemunho de que uma Igreja afastada do pobre é uma Igreja de costas para Jesus


Frei Betto, escritor, é autor do romance sobre exclusão social Hotel Brasil (Ática), entre outros livros.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Gente - Marcos Valle

Gente que entende
que não pode dar
porque nunca na vida sofreu por não ter
Deus quando fez essa terra pensou em fazer tudo bem diferente
Não que eu queira ter muita coisa demais
quero é ter um pouco de paz
quero apenas ter um lugar pra morar
porque
veja bem
há quem tem
sem saber
mais de cem
pode até mesmo o Senhor se zangar
e vir para a Terra e tudo mudar.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O QUE ME FAZ VIVER












"Há um reino no tempo em que a meta não é ter, mas ser, não possuir, mas dar, não controlar, mas partilhar, não submeter, mas estar de acordo.
A vida vai mal quando o controle do espaço, a aquisição de coisas do espaço torna-se nossa única preocupação..."
(ABRAHAM JOSHUA HESCHEL)

("O Que Me Faz Viver" - Sérgio Pimenta)

terça-feira, 23 de março de 2010

CONVÍVIO


“...Vocês olham para a aparência, mas eu vejo o coração.” (1Sm 16:7)

Quando Deus olha pra mim, o que Ele vê? que tipo de aspirações Ele encontra?
Valores externos ainda me movem? Bem, eu prefiro olhar pra Ele e assim descobrir quem eu sou de verdade, e, daí deixar que Ele faça as mudanças necessárias.

Convivendo com Deus, eu acabo me acostumando...



Eu me conheço mais
Olhando pra você eu vou
Descobrindo quem eu sou
E penso agora no que você vê

O que me diz de mim?
O que eu não reconheço sem você?
Eu não me enxergo bem
Se vivo a vida sem querer saber de mais ninguém

Pois não há bom proveito nos dias aqui
Quando o coração anda distante, triste, frio e sem amar
Em você eu tenho o que falta em mim
E descubro o que tenho de melhor pra lhe oferecer


(CROMBIE - CONVÍVIO)

quarta-feira, 17 de março de 2010

Deus, onde estás?


Deus, onde estás?
Te procuro.
Te procuraria na porta dessa rua.
Deus, onde estás?
Olha o que eu vejo agora
O menino dançou sem roupa
O menino botou na boca um doce com gosto de fel
Deus, onde estás?
A Igreja arrancou o sino
O homem esqueceu o menino
Fez castelo de ouro e prata e perdeu a vida
Ah! Acende toda luz
Iluminando a Terra que convive com a dor
Sem esperança
Vai onde há a dor, e cura!
Vai onde não há amor, e ama!
Vai onde há a dor, e alegra!
Vai onde não há amor, transforma!
Teu toque forte muda a sorte de quem Te encontra.
Deus, onde estás?
Te procuro.
Te procuraria no beco ou nessa rua.
Deus, onde estás?
Olha o que eu vejo agora
O menino dançou sem roupa
O menino botou na boca um doce com gosto de fel
Deus, onde estás?
Eu passei por aquele palco
Vi um grande homem fardado
Que gritava ao povo: "Dinheiro" Sem piedade
Ah! O homem passou
E se esqueceu da dor que sangra
Dentro do peito
Vai onde há a dor, e cura!
Vai onde não há amor, e ama!
Vai onde há a dor, e alegra!
Vai onde não há esperança!
Traz esperança!
Faz esperança!
Traz esperança!


(PALAVRANTIGA - Composição: Marcos Oliveira de Almeida)


Quando ouví essa música, ao refletir sobre ela, me senti tão medíocre. Sem perceber, fiquei trancado em minha religiosidade, dentro de um templo, frequentador de cultos, possuidor de um "ministério", enquanto o mundo espera pra saber o que há de novo e de bom em meio a tanta falta de esperança.

"Evangelizamos", mas de uma forma tão padronizada, tão fria, tão mecânica. Parece que estamos alheios à realidade do mundo, quando a forma mais sincera e eficaz de se pregar é com a vida, naturalmente, sem calcular perdas ou ganhos, sem esperar congratulações por simplesmente agir da forma que é comum àqueles que têm o amor do Pai e que sabem "onde Ele está".

Será que Deus terá de descer (mais uma vez) para curar, amar, alegrar, transformar, levar esperança? Ele está em nós! o que fazemos ainda dentro de templos? Será que somos capazes de parar e refletir sobre o cristianismo que temos vivido? Temos desfrutado e partilhado de uma Graça que é comum a todos e nivela a todos em uma mesma situação de dependentes de Deus, ou, temos vivido para nós mesmos em um cristianismo unilateral e presunçoso com 10km de comprimento por 1cm de profundidade?

Preciso rever meus conceitos, minhas atitudes e convicções, meus costumes e manias, minhas prioridades. Preciso me sujeitar a sofrer preconceito por parte dessa igreja religiosa e denominacionalista que em NADA se parece com a noiva que Jesus idealizou. Andar com os páreas, com os marginalizados, aqueles que ninguém suporta olhar, e levar novidade, como fez o Dono da Igreja.





“O Universo todo espera com muita impaciência o momento em que Deus vai revelar o que os seus filhos realmente são Pois o Universo se tornou inútil, não pela sua própria vontade, mas porque Deus quis que fosse assim. Porém existe esta esperança: Um dia o próprio Universo ficará livre do poder destruidor que o mantém escravo e tomará parte na gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Pois sabemos que até agora o Universo todo geme e sofre como uma mulher que está em trabalho de parto. E não somente o Universo, mas nós, que temos o Espírito Santo como o primeiro presente que recebemos de Deus, nós também gememos dentro de nós mesmos enquanto esperamos que Deus faça com que sejamos seus filhos e nos liberte completamente. Pois foi por meio da esperança que fomos salvos. Mas, se já estamos vendo aquilo que esperamos, então isso não é mais uma esperança. Pois quem é que fica esperando por alguma coisa que está vendo? Porém, se estamos esperando alguma coisa que ainda não podemos ver, então esperamos com paciência."
(ROMANOS 8. 19 a 25)